sábado, 27 de outubro de 2007

Comunicações Interpessoais - Qual o futuro? (Parte 2)



Tomando como continuação do texto escrito pela Alexandra, deixo aqui um artigo muito interessante do último número da revista BLITZ, escrito por Rui Tavares (ou Svengali. O texto é um bocado grande, mas a leitura é fácil:

" Uma questão de memória

No meu último ano de faculdade aceitei um trabalho de tradução para o qual precisava de um computador. Só havia um problema: eu não tinha computador. Com dinheiro emprestado, que devolveria quando viesse a receber o pagamento da tradução, lá fui até à loja. E foi então que uma loucura: em vez de comprar o modelo de 40mb, levei o de 80mb. Até o vendedor mo desaconselhou: se você não trabalha com imagens, provavelmente nunca vai encher esses 80mb de disco.

Poucos meses depois o disco estava cheio, e o ciclo repetiu-se com todos os computadores que já tive. Chamo ao resultado a Lei de Svengali: Após um primeiro momento de gáudio, não há nenhuma forma de armazenamento de informação que seja suficiente.

A explicação para o fenómeno está em que, colocados perante um espaço vazio, os humanos encontram sempre tralha suficiente para o encher. O mesmo acontece com o mundo físico "exterior". Quantas vezes montei estantes e aparafusei prateleiras para descobrir, pouco depois, que já não tinha onde pôr os livros? Quem nunca fez uma mudança espantado pela quantidade de caixas que tirou do seu minúsculo quarto de estudante, para onde se mudou nove meses antes? Onde pôr todos os álbuns de música, fotos e filmes? Porque razão os milionários compram mansões cada vez maiores?

Com o correr do tempo, a única adaptação que fiz à Lei de Svengali foi clarificar que, em cada ciclo, o período de gáudio se vai tornando menor. Como saberão, não fui o único a comenter este erro. Diz-se que em 1981 o fundador da Microsoft, Bill Gates, previu que ninguém precisaria mais do que 640kb. Referia-se a memória RAM, mas as etapas do ciclo psicológico estavam lá: arrogância, descrença e capitulação final.

Com o andar do tempo o período da arrogância e da descrença vai sendo comprimido até ser substituído pela certeza de que, provavelmente, nunca haverá memória suficiente para guardar tudo o que queremos guardar. Como nunca haverá prateleiras suficientes, nem espaço suficiente em quartos, nem cidades com casas suficientes, nem bibliotecas que guardem toda a informação que essas cidades produzem, nem sequer, um dia, planetas para colonizar com as nossas bibliotecas, os nossos discos duros e os nossos servidores.

(...)

Assim a ilusão vai progredindo. Devo ter enchido aquele computador com textos, programas, talvez tabelas. O seguinte enchi-o em dois meses, incrédulo comigo mesmo, com as fotos de uma só viagem. Em todos os computadores, passado poucas semanas, era forçado a repetir o processo de escolher o que poderia eliminar e começar a sonhar com um disco maior, onde pudesse armazenar digitalmente todas as imagens. Depois de todas as imagens, precisei de começar a guardar toda a música. E quando tiver guardado toda a minha música, sei que seria bom guardar todos os filmes. Um filme ocupa quase 10x mais espaço que aquele que tinha no meu primeiro computador.

A indústria tem correspondido, criando armazenamento que permite sonhar com o próximo passo. Com 100€ é possível comprar um disco externo de 500Gb - dá para a maior parte das colecções de música. Daqui a uns meses, será possível comprar, pelo mesmo preço, discos de 1Tb, o que já dá para muitas colecções de filmes.

Certamente, dizem os meus objectores, um dia será possível pôr tudo num disco. Se não fôr no tempo dos Petabytes, talvez no tempo dos hexabytes ou zetabytes?

Entretanto, olho para as minhas prateleiras. Também eu anseio por esse momento: não seria bom transferir todos os meus livros para um disco e tê-los, a partir daí, sempre à mão em qualquer lugar do mundo, sempre personalizáveis, sempre convocáveis, sempre folheáveis, sempre buscáveis e encontráveis? Quanto espaço me ocuparia? Que aparelho me permitirá lê-los na praia? Não me permitiria isso o sonho de poder viver sempre em trânsito, cada dia numa nova cidade?

(...)

Mas um dia o impasse vai ser ultrapassado. Certamente que se há-de descobrir uma maneira de armazenar cheiros numa memória digital. Teremos centenas de odores disponíveis, desde criações de perfumarias ao cheiro a terra molhada depois da chuva do Verão passado. Quanto espaço ocupará isso? Depois alguém inventará uma forma de armazenar um ambiente inteiro, em 3 dimensões, com odor integral, ruídos ocasionais, a luz que vai mudando, a textura dos objectos e tecidos, para uma experiência de imersão total. Ter o quarto da infância guardado para sempre será então a última moda; não haverá nova namorada que não o queira conhecer.

Anos mais tarde, mostraremos a casa de infância dos avós aos seus netos, tal como ela era duas gerações antes, com imagens dos vizinhos acenando para a rua. Talvez até dê para passear pelo bairro inteiro. Depois visitaremos alguns monumentos da Antiguidade e sentiremos nos pulmões a humidade da época seleccionada. Prefere o Parténon acabado de pintar ou já abandonado? Uns anos mais tarde vai ser possível assistir a qualquer final do campeonato do mundo inteiramente preservada, no ambiente do estádio, com as reacções de todos os espectadores minuciosamente registadas e reproduzidas, e até a brisa que soprou naquela noite será gentilmente modulada na nossa pele. Talvez até seja possível escolher a companhia sintetizada que se quer levar ao jogo.

Mas ainda aí nos sentiremos sozinhos. Numa noite deprimente de uma tasca em Banguecoque, sem nada que nos interesse ver, ouvir ou ler, sentiremos falta do nosso grupo de amigos, os verdadeiros, aqueles que deixámos na cidade de onde partimos. Temos a personalidade deles guardada no bolso, com um gerador de frases avulsas, um descodificador de expressões faciais, um gestor de interacção que permite reagir a situações novas, conversas que nunca se teve, anedotas sem graça. Hesitamos entre ir dormir ou premir o botão - para preencher aquele vazio."

Estava para comentar o texto da Alexandra, mas achei que este artigo serve melhor o que queria dizer.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Comunicações Interpessoais - Qual o futuro?


O tempo passa a correr e com ele chegam-nos novidades vindas de todos os lados.

Telemóveis, computadores, as duas coisas juntas num pequeno PDA...neste momento estamos cercados de inovadíssimos meios de comunicação.

Mas qual o futuro das comunicações interpessoais?

Escondidos num nickname, num avatar, num número, todos somos vítimas da inovação.

Dará ela lugar a novos conhecimentos, ou será ela uma fuga ao contacto directo?

Não podemos evitar notar o óbvio: as televisões substituíram as conversas de café, o convívio em jogos de futebol...os olhares foram substituídos por uma fotografia ou por troca de mensagens.

Será este o futuro das relações interpessoais?

Uma impessoalidade? Um secretismo tão grande que deixamos de conhecer os outros como realmente eles são? Deixaremos de nos dar a conhecer através de gestos e atitudes próprias de quem convive num mesmo local?

Até que ponto estaremos dispostos a ser manipulados pelas novas tecnologias?

Sim, porque nao há maior manipulação da nossa existência que aquela feita por quem tem de nós uma imagem errada. Aquela manipulação que não conseguimos controlar porque nem sabemos que existe.

Qualquer dia damos por nós rodeados de amigos virtuais. E aquele abraço que ás vezes faz falta? Duvido sinceramente que os smiles do messenger os consigam substituir. Aliás, não duvido. Tenho a certeza.

Mas por outro lado...conheço casos de grandes amizades/relacionamentos que começaram num "click".

Creio que nos cabe a nós aprender a lidar com a evolução dos meios de comunicação. Aprender a usá-los de forma correcta...não de maneira que nos afaste, mas sim que nos aproxime dos demais.