quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Hoje faço de conselheiro natalício




Como é que a música se expressa através de vocês?
Como é que um som, um solo de guitarra, uma bateria, um piano, uma voz e todos os instrumentos comunicam convosco? O que é que eles comunicam?


Como sabem, a comunicação diária nem sempre é feita no “parlapier” com os outros, verdade seja dita. De facto, numa altura destas, em que estamos de férias, uns a estudar, outros a relaxar, devemos passar mais tempo sozinhos do que acompanhados. Quantos não passam esse tempo de auscultadores nos ouvidos, ou a ouvir a música no rádio, ou na tv?

Quando foi a última (ou sequer a primeira) vez que pararam, fecharam as portas e janelas do quarto/sala e se sentaram a escutar um álbum, prestando atenção a todos os seus detalhes? O vosso álbum favorito, aquele que é sagrado…sentarem o cuzinho no chão ou na cadeira e, muito relaxadamente, ouvir cada nota, ao ritmo da guitarra que embala o corpo, ao baixo e à bateria que parecem dizer-nos para bater o pé no chão, a letra que nos faz reflectir na nossa vida…Quando foi verdadeiramente a última vez?

É que a nossa vida é tão cheia de coisas que não fazem o menor sentido, que às vezes perdemos a noção de como são bons esses momentos…Ou ler um livro também (e nesta altura então…à lareirinha e tudo) é bom.
A música comunica connosco. A sério!

Exemplo meu:
1- Quando estou alegre, tenho logo uma playlist mental que me apetece cantar! Nem que sejam aquelas todas parolas! Desde que nos façam cantar, são perfeitas.

2- E quando estou menos bem disposto, há sempre aquelas que me aparecem para ainda meter um gajo pior (no meu caso é Joy Division e Cure).

Aquelas que nos lembram a nossa infância.
Aquelas que nos fazem reflectir e pensar na morte da bezerra.
A nossa adolescência.
Aquelas que marcadamente nos lembram pessoas – boas, más.

A pior coisa que me podem fazer é tirar-me a música. Há uns que ficam pernetas, outros manetas, eu fico “musiqueta”! Não consigo viver sem música e ela expressa-se de uma maneira em mim, que quando estou realmente entusiasmado num disco, sou capaz de passar horas a ouvir, e a ouvir, e a ouvir…
Acontece o mesmo convosco?

Vou-vos propor um pequeno exercício mental para esta quadra de Natal (ai que festivo que eu estou hoje):

Não, não tem nada a ver com canções de natal e prilimpimpim o Pai Natal, e prolompompom o Menino Jesus.
Nada disso.




Quero que se agasalhem bem (não, também não é para ir para a rua cantar as janeiras, estejam descansados), que se sentem na divisão da vossa casa onde possam estar sozinhos, agarrem no vosso disco favorito e metam-no a rodar.
(o agasalho é porque esta altura é fria como o caraças e não quero que depois me venham bater com uma constipação)
Sentem-se no sítio mais confortável que houver nessa divisão e escutem um bom álbum do início ao fim.
Prontos?

Atentamente, tentando que os outros sons não vos distraiam (daí a importância de um sítio fechado), reparem que tudo o que tinham ouvido antes, vos vai soar diferente desta vez. Há sons que vão reparar que soam mais alto, barulhos que antes não tinham reparado.
Quer estejam a ouvir os Beach Boys, estejam a ouvir Bob Dylan, os Stones, ou o que for, há sempre algo que nos escapa ao ouvido e que só quando escutamos atentamente é que nos apercebemos. E é esse som que escapa que dá o significado todo ao disco e que se torna único para cada um de nós.

Experimentem isto estas férias e depois digam o resultado.

Ah! Porque é que escrevi isto?
Porque hoje decidi eu mesmo fazer isso: fechar os olhos, as luzes do quarto e ouvir o meu álbum favorito (“The Dark Side of The Moon”, dos Pink Floyd, 1973) e tentar não pensar em mais nada (aulas, trabalho,stress, chatices, nada dessas coisas). Não é a primeira vez que o oiço. Nem a segunda, e muito menos a terceira, vigésima, sei lá. Já lhe perdi a conta, sinceramente. Nunca me farto. Mas é como se fosse a primeira. Há sempre alguma coisa que me escapa, algum som, uma nota que soa diferente, um som da bateria que soa mais alto, um solo de guitarra, uma voz e uma letra…
O facto de ser um álbum conceptual (construído não em singles sobre singles – o vírus da indústria da música actualmente – mas numa estrutura que dê sentido do início ao fim. Quase como uma história) talvez tenha ajudado.
Há ali algo a querer comunicar comigo...



Fazer este exercício, de tempos em tempos, ajuda a revitalizar a mente, organizar ideias, dar algum sentido ao que estamos a fazer.

Gostava de saber se a música comunica convosco da mesma maneira, e partilho este texto então.

Deixo aqui uma musiquita para "córtirem bués".

Pink Floyd
Comfortably Numb
The Wall,1979)


Bem, não sou um tipo muito natalício, mas desejo umas boas festas para todos e um 2008 em grande e com essas coisas todas que as pessoas civilizadas (que não é o meu caso, que sou um troll das cavernas) costumam desejar umas às outras. :)

Beijos e abraços para todos

Quinta-Feira, 20 de Dezembro de 2007, 00h11

Sem comentários: