Já ouvi por aí barbaridades de miúdos (e até graúdos) como "quem nos dera ter um Salazar de novo", ou "no tempo do Salazar é que era bom"...Palermas. Tomara que os vossos pais tivessem o que vocês tiveram. Que os vossos avós tivessem o que vocês tiveram.
Putos mimados. Sabem mais de telenovelas que do que lhes permitiu dar um canal de televisão privado.
Hoje em dia faz-se culto a actores dos morangos com açúcar, faz-se culto a cantores da treta, e fica José Afonso esquecido.
É triste ver que poucos em Coimbra se lembram dele.
Quem diz José Afonso, diz Eduardo Bettencourt, diz Luís Goes, diz Adriano Correia de Oliveira, diz Almeida Santos, Artur Paredes e Carlos Paredes, diz tantos outros que fizeram pela nossa cidade (acho que lhe posso chamar nossa), pela nossa música, pela nossa cultura e que hoje são lembrados apenas em escondidas placas na soleira de casas, por entre os labirintos da baixa e da alta, ou por muito pouca gente.
Fica aqui um pouco de história do "Zeca".
José Afonso
(1929-1987)
(1929-1987)
Zeca Afonso começa a cantar por volta do quinto ano no liceu D. João III e a sua voz ouve-se na cidade de Coimbra. Os tradicionalistas diziam que Zeca era um bicho que cantava bem.
Em Coimbra passa pelas Repúblicas onde conheceu a amizade e a farra académica. Seduzido pela cidade, tem os primeiros contactos com grupos recreativos, joga futebol na Académica e acompanha a equipa um pouco por toda a parte. Zeca disse nesta altura: “Entreguei-me completamente à mística da chamada Briosa”. Nas colectividades conhece “gajos populares”, entre os quais Flávio Rodrigues, que encontra no Zeca um grande admirador, que o acha superior a Artur Paredes.
Inicia-se em serenatas e canta em festas das aldeias.
Como estudante integrou várias comitivas do Orfeão Académico de Coimbra e da Tuna Académica da Universidade de Coimbra, nomeadamente em digressões pelo Continente, por Angola e por Moçambique. O Fado de Coimbra lírico e tradicional era superiormente interpretado por si. A praxe académica e a boémia encheram-lhe tardes e noites gloriosamente Coimbrãs.
É tempo das boleias e da capa e batina e isso permite-lhe o contacto com os meios sociais miseráveis do Porto, no Bairro do Barredo, fonte de inspiração para a sua balada “Menino do Bairro Negro”.
José Afonso foi envolvido pela lenda Coimbrã, com o encantamento das suas tradições, que simultaneamente o atraíam e causavam repulsa.
Em 1949, Zeca inscreveu-se em histórico-filosóficas na Faculdade de Letras em Coimbra e casou com Maria Amália.
Em 1958, no mesmo ano em que dava aulas em Faro, Zeca Afonso grava o seu primeiro disco “Baladas de Coimbra” enquanto acompanha o movimento em torno da campanha eleitoral de Humberto Delgado. Mais tarde grava “Os Vampiros” que juntamente com “Trova do Vento que Passa” , escrita por Manuel Alegre e cantada por Adriano Correia de Oliveira, constituem uma referência ímpar das músicas de intervenção em Portugal contra o regime fascista. Em 1969, Zeca actuou em Coimbra para os estudantes durante a greve estudantil.
Grande artista de renome nacional, conhecido pela sua intervenção musical em Abril de 1974, faleceu a 23 de Fevereiro de 1987.
Fica aqui também:
José Afonso
"Balada de Outono"
Adriano Correia de Oliveira
"Trova do Vento que Passa"
1 comentário:
Parabéns pelo blog, caro colega :)
parabéns pelo artigo!! E por dares a conhecer um pouco do Zeca a todos os que por aqui passarem! Ele e tantos outros, como referes, e bem, não poderão nunca ser esquecidos!
Na minha opinião o Zeca não foi esquecido, nem nunca será pelas gerações a quem tocou...mas cabe aos pais, e aos avós transmitir um pouco da cultura Coimbrã aos seus descendentes, sem nunca o esquecer,claro! cabe tb à cidade, nomeadamente à Camara e a tantos outros organismos organizar mais iniciativas para o recordarmos...
(Imagino que) no tempo do Zeca é que era! :) "porque há sempre alguém que resiste!"
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